Construções de armar de O Mosquito
Há quem ligue a invenção do papel à da arte de criar modelos neste material. No entanto, não existem exemplos nem documentação que prove esta teoria.
Calcula-se que o papel terá sido inventado na China por volta do ano 100 da nossa era, estando ligado ao nome de um funcionário chamado Ts'ai Lun, provavelmente fabricado a partir de tecido, muito embora rapidamente o fabrico passasse a utilizar matéria vegetal. Durante cerca de 500 anos, o segredo manteve-se naquele país, tendo sido levado para o Japão por volta do século VII por monges budistas. Em 751 d.C., os árabes que ocupavam Samarcanda foram atacados pelos chineses e fizeram prisioneiros, de entre os quais alguns conheciam o segredo do fabrico do papel, que depressa circulou em direcção ao ocidente através das caravanas comerciais, tendo chegado ao Egipto por volta do século X, à península ibérica no século XII, e à Sicília, por via da ocupação árabe, alargando-se posteriormenta à península itálica; em 1276 havia já fábricas de papel em Fabriano, e em 1348 em França, na cidade de Troyes, e no século XIV o papel já era conhecido e utilizado em grande parte da Europa, sobretudo para a manufactura de documentos e livros. Nas ilhas britânicas apenas no século XV foi criada a primeira fábrica, em Hertford, e nos Estados Unidos isso só aconteceu em 1690, no estado da Pensilvânia.
O desenvolvimento do processo de fabrico do papel e o seu subsequente embaratecimento tornaram este material bastante popular para as mais diversas aplicações, sobretudo a partir da Revolução Industrial, quando a técnica de impressão evoluiu o suficiente para criar produtos de qualidade. E os brinquedos não foram excepção. Popularizaram-se os modelos de papel, com roupas que podiam ser recortadas e colocadas por cima das figuras, os teatros de papel e, claro, as construções de armar. Mas muitas delas acabaram por perder-se, já que este material é frágil e destrói-se facilmente. Só no século XIX é que na verdade se desenvolveu a comercialização deste tipo de brinquedos, que acabavam por envolver toda a família no recorte, colagem e montagem dos modelos.
Mas foi no século XX que, após a I Guerra Mundial, o interesse se alargou a temas militares: modelos de barcos, aviões e outro tipo de armamento. Durante o conflito mundial seguinte, e devido à escassez de matéria-prima para o fabrico de brinquedos, numa altura em que o esforço de guerra e a crise mundial obrigavam ao racionamento de metais, o papel adquiriu enorme relevância no fabrico de brinquedos, muito embora fosse igualmente objecto de restrições no seu uso, e a sua qualidade tivesse descido consideravelmente. Muitos modelos eram publicados em páginas de jornais, sobretudo nos suplementos dominicais de Comics, ou até em caixas de cereais.
Em Portugal, a partir de 1930 algumas revistas destinadas a crianças e jovens passaram a publicar folhas com construções de armar, como foi o caso do Pim-Pam-Pum, um suplemento infantil do jornal O Século, das revistas de quadradinhos O Senhor Doutor, O Mosquito e mais tarde Cavaleiro Andante, em muitos casos vendidas em folhas à parte ou integrando as publicações como suplementos. Eram frequentemente impressas em papel de má qualidade e com uma deficiente aplicação da cor, mas fizeram as maravilhas de muitos dos seus leitores, que viam aqui a possibilidade de construirem automóveis, aviões e barcos, cenários mais sofisticados, como parques de diversão, presépios, monumentos e casas populares, já que o material utilizado, o papel, não requeria instrumentos mais sofisticados do que uma tesoura e cola, para além de alguns cuidados na sua manipulação e algum jeito. Mas muitas dessas construções foram concebidas por grandes desenhadores portugueses, sobretudo ligados às chamadas histórias aos quadradinhos.
Se hoje em dia há criações muito sofisticadas, miniaturas realizadas com grande pormenor, exposições e museus de construções de armar, tudo isso se deverá a esta invenção com quase dois mil anos.
As construções aqui divulgadas foram publicadas com a revista O Mosquito.
Fazem parte de uma série intitulada Uma Aldeia Alentejana e constituem as partes 1 a 4: A Igreja, A Casa do Povo, A Casa dum Aldeão, A Casa do Lavrador. Foram publicadas em papel de má qualidade, o mesmo em que era impressa a revista, sendo difícil a sua montagem nestas condições, a não ser que se colasse este papel noutro mais grosso ou em cartolina, já que as construções neste último material só começaram a surgir mais tarde, segundo creio, pelos anos 60.
Obs.: Este post foi publicado em simultâneo no blogue Coisas de outros tempos.
Resolução: 300 dpi.
A Igreja
A Casa do Povo
A Casa dum Aldeão
A Casa do Lavrador
Etiquetas: Construções de armar, O Mosquito
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