Spooky the Tuff Little Ghost, Lelo o fantasminha, da Harvey
A popularidade das personagens da editora norte-americana Harvey Comics em Portugal não se ficou a dever à edição das suas aventuras em publicações nacionais, mas antes às edições brasileiras que por cá se vendiam nos anos 50, 60 e 70 do século passado e que nos chegavam com alguns meses de atraso, como ainda hoje acontece com as personagens de Maurício de Sousa. Muitas vezes destinadas primordialmente a um público infantil e juvenil, estas revistas eram acessíveis a quem possuía algum poder de compra, daí que a sua influência e o conhecimento das mesmas tenham sido limitados sobretudo à classe média, acabando por cair no esquecimento, e hoje em dia apenas algumas pessoas se recordarão de nomes como Gasparzinho (no original Casper, the Friendly Ghost, que obteve um sucesso razoável com uma medíocre longa-metragem de 1995 acerca desta personagem, num misto de acção real e animação), Brasinha (Hot Stuff), Luluzinha (Little Lulu), Bolinha (Tubby), Riquinho (Richie Rich), e muitas outras, em que se incluirá, muito naturalmente, um alargado leque de personagens secundárias, algumas das quais chegando a obter tanto sucesso como as principais.
Este será o caso de Spooky the Tuff Little Ghost, que surgiu no número 10 da revista Casper the Friendly Ghost, de Junho de 1953, a qual iniciara a sua publicação um ano antes, aproveitando o sucesso que Casper obtivera no cinema de animação da Famous Studios. Desenhado por Howard Post, nascido em 1926 e que trabalhou para a Harvey e a DC, as aventuras desta personagem garantiram-lhe até os seus próprios títulos, como Spooky Spooktown (que se publicou entre 1961 e 1976), Spooky Haunted House (entre 1972 e 1975) e Tuff Ghosts Starring Spooky (entre 1962 e 1972), tendo a editora resolvido abandonar a publicação em Setembro de 1980 devido à quebra de vendas que este tipo de revistas sofreu na década de 70, muito embora, ao longo dos anos de maior sucesso, tenha simultaneamente surgido no cinema de animação.
Como acima se afirmou, esta personagem foi conhecida em Portugal devido às publicações oriundas do Brasil, inicialmente da editora Cruzeiro e, posteriormente, da Editora Vecchi, da Globo e da Abril. Chegou a ter publicação autónoma, mas alternando em geral as suas aventuras com as de Gasparzinho, o Fantasma Camarada, como o intitularam os brasileiros, que conseguem aportuguesar os nomes de personagens com uma enorme criatividade (basta ver como foram intituladas as da Disney).
Spooky foi introduzido como primo de Casper, um parentesco nunca esclarecido, apresentando com esta muitas semelhanças físicas, ou não se tratasse igualmente de um pequeno fantasma, à excepção das sardas, do seu enorme nariz, e de um chapéu que era a sua imagem de marca. Facto difícil de apreciar na edição em língua portuguesa era a sua pronúncia da língua inglesa, característica de Brooklin, um típico bairro nova-iorquino de onde provinham muitas conhecidas personagens do cinema com fama de duros (tuff, ou seja, tough). O seu único propósito na vida era assustar pessoas, o que fazia amiúde, (embora nunca de forma excessivamente violenta), para grande tristeza da sua namorada, Pearl (a sua pronúncia levava-o a pronunciar o seu nome como Poil, que o censurava veementemente por esse comportamento e que o levava, uma vez por outra, a penitenciar-se e a corrigir estas atitudes, que raramente duravam muito tempo. No entanto, os sustos que causava muitas vezes acabavam por se virar contra si mesmo, colocando-o «em maus lençóis».
Recentemente têm sido editadas algumas antologias de aventuras da editora Harvey, numa interessante recolha de histórias há muito esquecidas, numa colecção intitulada Harvey Comic Classics, cujo 1º volume foi dedicado a Casper, publicando algumas das páginas de Spooky.
A prancha original aqui apresentada foi publicada na revista Casper número 163, datada de Setembro de 1972, constituindo a página 16 da referida revista. Conjuntamente com o desenho original, a preto e branco, mostramos igualmente a página, já colorida, tal como surgiu na revista. A dimensão da mancha é de 45,9 por 30,5 cm e a do papel é de 49,1 por 32,8 cm, aproximadamente. Como era habitual, não surgem assinaturas do seu autor, havendo apenas uma indicação manuscrita do número da publicação no canto superior esquerdo.
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