quinta-feira, julho 23, 2009

Lucifera

O erotismo nas histórias aos quadradinhos europeus é um fenómeno característico dos anos 70 do século passado, tendo principalmente origem na Itália, país onde foi produzida a maioria das histórias que proliferaram neste altura um pouco por toda a Europa, em particular nos países do Sul, Portugal, Espanha e França, os dois primeiros recém saídos de regimes totalitários de direita onde a Censura, alimentada por um tradicionalismo ligado à Igreja católica, interditava todo o tipo de publicações e de linguagem que apresentassem ou sequer sugerissem imagens eróticas ou pornográficas, o que não foi o caso da França, onde este género obteve alguma tolerância.

Em Itália, um país democrático e livre de censura, foram inúmeras as publicações e os artistas que se dedicaram a estas histórias, que mais tarde foram traduzidas para outras línguas, constituindo um fenómeno sem paralelo em nenhum outro país. Os fumetti erotici tiveram a sua época de oiro nessa década de 70, com títulos e personagens como Zora la Vampira, Maghella, Biancaneve, Vartan, Jacula e… Lucifera, muito antes de se terem popularizado no ocidente os hentai, as histórias aos quadradinhos japonesas de teor pornográfico, embora muito depois de os norte-americanos terem popularizado as Tijuana Bibles, pequenos opúsculos que narravam histórias pornográficas com personagens inspiradas nos quadradinhos ou no cinema.

Foi sobretudo a editora milanesa Edifumetto (antes ErreGi), de Renzo Barbieri, mas também a casa Ediperiodici, de Giorgio Cavedon, ele próprio argumentista, que lançou publicações e personagens de cariz erótico e pornográfico, com dezenas de títulos, se bem que antes tenha lançado histórias aos quadradinhos para adultos, como Diabolik, Kriminal e Satanik, chegando depois a surgir adaptações erótico-pornográficas de grandes êxitos cinematográficos da época, como Tubarão, ou histórias que envolviam personalidades históricas, como Kennedy ou Hitler, entre muitas outras.

CapaUma das personagens mais conhecidas destas edições foi Lucifera, que chegou a ter uma revista com o seu nome, com 170 números publicados em Itália entre Outubro de 1971 e Agosto de 1980, e 99 números em França, pela Elvifrance, entre 1972 e 1980. Em Portugal foram apenas publicados 14 números, entre 1976 e 1977. As páginas continham em geral duas vinhetas ou apenas uma única que ocupava toda a página, e eram publicadas a preto e branco em papel de fraca qualidade.

Lucifera era um súcubo, um demónio com figura feminina, íntima do próprio Satanás, que se movimentava pela Europa medieval tentando combater o imperador Carlos Magno e a sociedade cristã, a qual era retratada de forma extremamente desregrada e hipócrita. Para atingir os seus fins, Lucifera contava com vários aliados, desde árabes a normandos e saxões, dos quais se tornara igualmente íntima, muito embora se chegue a apaixonar por Fausto, um jovem que representa o bem. Alguma crítica chegaou a apontar o facto de Lucifera ser inspirada na personagem norte-americana Vampirella, editada pela Warren, sobretudo pelo seu aspecto físico. O cinema chegou a explorar igualmente esta personagem.

Entre os muitos desenhadores que se encarregaram da história (e de muitas outras), merecem destaque Leone Frollo e Tito Marchioro.

As histórias aos quadradinhos eróticos e pornográficos tiveram grande popularidade em Portugal logo após a Revolução de 25 de Abril de 1974, sobretudo através de edições da Portugal Press, que editou dezenas de títulos, até finalmente desaparecerem durante os anos 80.

A página original de Lucifera, aqui apresentada com o seu amado Fausto, terá sido publicada em Lucifera Super número 14, sendo a primeira página da história. Não apresenta qualquer data nem assinatura de autor, tendo a dimensão de 26,4 x 17,5 cm para a mancha e de 29,5 x 20,8 cm para o papel.

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LUCIFERA

Erotic comics in Europe are a 70's phenomenon which originated in Italy, where a great number of comics were produced, later spreading throughout Europe, mainly in the southern countries of Portugal, Spain and Franc. The first ones were both emerging from totalitarian regimes where censorship and the influence of the Catholic Church banned all kinds of publications and language that suggested eroticism or pornography, which was not the case in France, where erotic comics were tolerated.

In Italy, a democratic and free of censorship country, a lot of publications appeared and quite a number of artists worked on these stories, which were later translated into other languages. This phenomenon has no parallel in any other country. The Fumetti erotici had their golden age in the 70s, with titles and characters like Zora the vampire, Maghella, Biancaneve, Vartan, Jacula, Sukia ... and Lucifera, well before hentai, Japanese comics with pornographic content were popularized, but much after American Tijuana Bibles, small pornographic books that exploited well-known comic characters or movie stars.

The biggest publishing house of this genre was Milan Edifumetto (before ErreGi), owned by Renzo Barbieri, but one also has to consider Ediperiodici, owned by Giorgio Cavedon, a scriptwriter himself, and they both edited dozens of titles of erotic and pornographic comics, after publishing other adult dark comics, such as Diabolik, Satanik and Kriminal. Erotic comics also exploited great success movies as Jaws, or historical figures such as Kennedy or Hitler, among many others.

One of the best known characters was Lucifera, which had a magazine named after her, with 170 issues published in Italy between October 1971 and August 1980 and 99 issues in France, by Elvifrance, between 1972 and 1980. In Portugal there were only 14 issues published between 1976 and 1977. The pages contained usually one or two panels in the entire page, and were published in black and white on poor quality paper. Lucifera was a sucubus, a female demon, who was very close to Satan himself, and the action took place in medieval Europe where she tried to oppose emperor Charlemagne and the Christian society, which was portrayed in a very licentious and hypocritical way. To achieve her ends, Lucifera had several allies, since the Arabs to Normans, Saxons, but she ended falling in love with Faust, a young man who represented the good. Some critics mentioned that Lucifera was based on the American character Vampirella, edited by Warren, mainly because of her physical appearance.

Among the many artists responsible for the art, one has to mention Leone Frollo and Tito Marchiori.

These erotic and pornographic comics were very popular in Portugal after the 25th of April 1974 Revolution, mostly published by Portugal Press, but they finally disappearead in the 80s.

This Lucifera original art page shows the main character together with her beloved Faust and was published in Super Lucifera issue #14, and it is the first page of this story. There is no date or author's signature on the page. The size of the art is 26,4 x 17,5 cm and the page is 29,5 x 20,8 cm long.

The image shown has a resolution of 100 dpi and can be enlarged to a 300 dpi version with a click of the mouse.

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